domingo, setembro 30, 2007

[Política] Como controlar populações (e como não ser controlado)

Por Charley Reese
A diferença entre a verdadeira educação e o treinamento vocacional está engenhosamente obscurecida. Aqui estão alguns métodos sobre como pessoas mal-intencionadas podem controlar outras pessoas. Se qualquer deles lhe lembrar algo... Bem, então fique atento!

O primeiro princípio para controlar povos (ou pessoas) é não permitir que eles saibam que estão sendo controlados. Se os povos conhecem, este conhecimento pode criar ressentimentos e rebeliões, que necessitarão de força bruta e terror, e outras medidas dispendiosas e que não garantem 100% de controle.

Controlar as pessoas indiretamente é mais fácil do que você pensa, manipulá-las para que pensem aquilo que você quer que elas pensem e façam o que você quer que elas façam.

Uma técnica básica é mantê-las ignorantes. Pessoas educadas são difíceis de serem manipuladas. Eliminar a educação pública e gratuita ou restringir o acesso à educação são medidas diretas que podem trazer dificuldades. O método indireto é controlar a educação que elas recebem.

É possível ser um Ph. D., Doutor, advogado, empresário, jornalista ou um contador, apenas para enumerar alguns exemplos, e ao mesmo tempo ser uma pessoa sem educação. A diferença entre a verdadeira educação e o treinamento vocacional está sendo engenhosamente mascarada atualmente, assim temos pessoas obtendo grande sucesso em suas profissões enquanto, ao mesmo tempo, permanecem totalmente ignorantes frente às grandes questões do planeta em que elas vivem.

O sintoma mais óbvio é a falta de opinião própria. Faça a eles uma questão e eles imediatamente repetirão aquilo que alguém já pensou e declarou sobre o assunto. O que eles pensam... Bem, eles nunca pensaram sobre o assunto. A educação deles consistiu em aprender como usar a biblioteca e citar fontes.

Isso grandemente simplifica as coisas para o controlador, porque tendo muito dinheiro, dons universitários, fundações, concessões e, é claro, a propriedade de meios de comunicação, é relativamente fácil manipular as pessoas para que pensem da forma que o controlador deseja, em vez de refletirem e estabelecerem suas próprias opiniões.

Outra técnica é prover farto entretenimento para as pessoas. Os imperadores Romanos criaram espetáculos circenses e de gladiadores porque eles não tinham televisão. Nós temos televisão porque não temos circos e gladiadores. De qualquer forma, o propósito é manter a mente das pessoas voltadas para o entretenimento, esportes e questões políticas de pouca importância. Deste modo você não terá que preocupar-se, pois eles sempre estão com a mente focada nos assuntos que permitem, a você, controlá-los.

Da mesma forma que pessoas realmente educadas são difíceis de controlar, pessoas financeiramente independentes também o são. Então, você tem que criar condições que produzam indivíduos que trabalhem em troca de salários, assim eles terão pequeno controle sobre os destinos econômicos deles próprios. Você também desejará controlar o sistema monetário, créditos e sistema bancário. Isso permitirá a você inflacionar a moeda corrente, tornando praticamente impossível para os assalariados acumular capital. Você também pode causar deflações e recessões periódicas para provocar a falência de empresas familiares, pequenos estabelecimentos comerciais e pequenos empresários, incluindo bancos comunitários independentes.

Para manter o controle sobre acordos comerciais, você apenas precisa promover um esquema que lhe permita deslocar trabalhos produtivos para fora do país e enviar de volta produtos acabados na forma de importações (esses acordos comerciais também são chamados de "livre comércio"). Por este caminho você acabará com as uniões comerciais.

Outra técnica é comprar (com subornos, por exemplo) os partidos políticos, assim, não fará diferença se as pessoas votarem no candidato A ou no candidato B, pois resultará na mesma política. Isso criará uma grande apatia e convicção de que o processo político é inútil para efetuar mudanças reais.

Brevemente você terá uma população que se sente completamente desamparada, e que pensa que as coisas ruins que acontecem a elas não são falhas particulares de cada indivíduo, mas o resultado de forças globais ou evolução, ou devido a qualquer outro fenômeno sobrenatural de conceito abstrato. Se necessário, você poderá oferecer os bodes espiatórios.

Então você pode sangrá-los até que sequem sem se preocupar muito que um deles entre furtivamente na sua casa, à noite, e lhe corte garganta. Se você fizer tudo bem feito, eles nem saberão de quem é a garganta que estarão cortando.

domingo, agosto 05, 2007

[Vídeo] L'amour est un oiseau rebelle - Nina Hagen

Imaginem o Rock in Rio de 1985, agora pensem na silhueta de um King Diamond de cabelo rosa pink...

Nesse interim começa a tocar a trilha sonora de "Um Odisséia no Espaço" e a batida muda para "Beat It" de Michael Jackson...

De repente e não mais que derrepente aparece a demente (no bom sentido) da Nina Hagen cantando "L'amour est un oiseau rebelle" de Bizet...

Ai que saudades que sinto das coisas que nunca vi...hehehehehehe

L'amour Est Un Oiseau Rebelle (Tradução)

O amor é um pássaro rebelde

Que ninguém pode prender,

Não adianta chamá-lo

Pois só vem quando quer.

Não adiantam ameaças ou súplicas,

Um fala bem, o outro cala-se

É o outro que prefiro,

Não disse nada, mas agrada-me.

O amor é filho da boêmia,

Que nunca, nunca conheceu qualquer lei;

Se não me amares, eu te amarei;

Se eu te amar, toma cuidado!

O pássaro que julgavas surpreender

Bateu asas e voou

O amor está longe, podes esperá-lo

Já não o esperas, aí está ele,

À tua volta, depressa, depressa,

Ele vem, ele vai, depois volta,

Julgas tê-lo apanhado, ele te escapa;

Julgas que te fugiu, ele agarra-te.

O amor é filho da boêmia,

Que nunca conheceu qualquer lei.

Se não me amares, eu te amarei;

Se eu te amar, toma cuidado!

[Fragmentos] Vícios Humanos e Adaptação

“Mas e quanto ao imperativo darwiniano de sobreviver e reproduzir-se? No que concerne ao comportamento cotidiano, não existe esse imperativo. Há quem fica assistindo a um filme pornográfico quando poderia estar procurando um parceiro, quem abre mão de comida para comprar heroína, quem posterga a gestação dos filhos para fazer carreira na empresa, quem come tanto que acaba indo mais cedo para o túmulo. O vício humano é prova de que a adaptação biológica, na acepção rigorosa do termo, é coisa do passado. Nossa mente é adaptada para os pequenos bandos coletores de alimentos nos quais nossa família passou 99% de sua existência, e não para as desordenadas contingências por nós criadas desde as revoluções agrícola e industrial. Antes da fotografia, era adaptativo receber imagens visuais de membros atraentes do sexo oposto, pois essas imagens originavam-se apenas da luz refletindo-se de corpos férteis. Antes dos narcóticos em seringas, eles eram sintetizados no cérebro como analgésicos naturais. Antes de haver filmes de cinema, era adaptativo observar as lutas emocionais das pessoas, pois as únicas lutas que você podia testemunhar eram entre pessoas que você precisava psicanalizar todo dia. Antes de haver a contracepção, os filhos eram inadiáveis, e status e riqueza podiam ser convertidos em filhos mais numerosos e mais saudáveis. Antes de haver açucareiro, saleiro e manteigueira em cada mesa, e quando as épocas de vacas magras jamais estavam longe, nunca era demais ingerir todo o açúcar, sal e alimentos gordurosos que se pudesse obter. As pessoas não adivinham o que é adaptativo para elas ou para seus genes. Estes dão a elas pensamentos e sentimentos que foram adaptativos no meio em que os genes foram selecionados.”
Steven Pinker

[Poesia] A Piedade - Roberto Piva

A PIEDADE
Eu urrava nos poliedros da Justiça meu momento
abatido na extrema paliçada
os professores falavam da vontade de dominar e da
luta pela vida
as senhoras católicas são piedosas
os comunistas são piedosos
os comerciantes são piedosos
só eu não sou piedoso
se eu fosse piedoso meu sexo seria dócil e só se ergueria
aos sábados à noite
eu seria um bom filho meus colegas me chamariam
cu-de-ferro e me fariam perguntas: por que navio
bóia? por que prego afunda?
eu deixaria proliferar uma úlcera e admiraria as
estátuas de fortes dentaduras
iria a bailes onde eu não poderia levar meus amigos
pederastas ou barbudos
eu me universalizaria no senso comum e eles diriam
que tenho todas as virtudes
eu não sou piedoso
eu nunca poderei ser piedoso
meus olhos retinem e tingem-se de verde
Os arranha-céus de carniça se decompõem nos
pavimentosos adolescentes nas escolas bufam como cadelas
asfixiadas
arcanjos de enxofre bombardeiam o horizonte através
dos meus sonhos
Roberto Piva
Para ver o vídeo com o próprio Piva recitando, clique no link abaixo:

sexta-feira, julho 13, 2007

[Filosofia] Rostos da Decadência

Rostos da Decadência

Autor: Emile Michel Cioran
Tradução: Jose Thomaz Brum
Fonte: Breviário de Decomposição (pp. 115-126)

“Não consigo tirar de minhas pálpebras a fadiga dos povos completamente esquecidos”

Hugo von Hofmannsthal


Uma civilização começa a decair a partir do momento em que a Vida torna-se sua única obsessão. As épocas de apogeu cultivam os valores por si mesmos: a vida é apenas um meio de realiza-los: o indivíduo não sabe que vive. Ele vive, escravo feliz das formas que engendra, preserva e idolatra. A afetividade o domina e o preenche. Não há criação alguma sem os recursos do “sentimento”, que são limitados: no entanto, para aquele que só experimenta sua riqueza, parecem inesgotáveis: esta ilusão produz a história. Na decadência, o embrutecimento afetivo só permite duas modalidades de sentir e de compreender: a sensação e a idéia. Ora, é pela afetividade que nos entregamos ao mundo dos valores, que projetamos vitalidade nas categorias e nas normas. A atividade de uma civilização em seus momentos fecundos consiste em fazer sair as idéias de seu nada abstrato, em transformar os conceitos em mitos. A passagem do indivíduo anônimo ao indivíduo consciente ainda não se realizou: no entanto, é inevitável. Avaliem: na Grécia, de Homero aos sofistas: em Roma, da antiga República austera às “sabedorias” do império: no mundo moderno, das catedrais às rendas do século XVIII.

Uma nação não poderia criar indefinidamente. Está chamada a dar expressão e sentido a um conjunto de valores que esgotam-se com a alma que os engendrou. O cidadão desperta de uma hipnose produtiva, o reino da lucidez começa: as massas só manejam categorias vazias. Os mitos tornam-se novamente conceitos: é a decadência. E as conseqüências se fazem sentir: o indivíduo quer viver, converte a vida em finalidade, eleva-se à categoria de pequena exceção. O balanço dessas exceções, ao compor o déficit de uma civilização, prefigura seu desaparecimento. Todo mundo alcançou a delicadeza; mas não é radiante estupidez dos simplórios que realiza a obra das grandes épocas?

Montesquieu afirma que, no final do Império, o exército romano era composto apenas pela cavalaria . mas esquece de indicar-nos a razão disso. Imaginemos o legionário saturado de glória, de riqueza e de devassidão depois de haver percorrido inúmeros países e perdido a sua fé e seu vigor ao contato de tantos templos e vícios, imaginemo-lo a pé! Conquistou o mundo como infame: o perderá como cavaleiro. Em toda brandura revela-se uma incapacidade fisiológica de aderir por mais tempo aos mitos da comunidade. O soldado emancipado e o cidadão lúcido sucumbem sob o bárbaro. A descoberta da Vida aniquila a vida.

Quando todo um povo, em diferentes graus, está á espreita de sensações raras, quando, pelas sutilezas do gosto, complica seus reflexos, chegou a um nível de superioridade fatal. A decadência não é outra coisa senão o instinto tornado impuro pela ação da consciência. Assim não se pode superestimar a importância da gastronomia na existência de uma coletividade. O ato consciente de comer é um fenômeno alexandrino; o bárbaro se alimenta. O ecletismo intelectual e religioso, o engenho sensual, o esteticismo e a obsessão hábil de boa mesa são os sinais diferentes de uma mesma forma de espírito. Quando Gabius Apicius peregrinava pelas costas da África para buscar lagostas, sem estabelecer-se em parte alguma porque não as encontrava a seu gosto, era contemporâneo das almas inquietas que adoravam uma multidão de deuses estrangeiros sem encontrar satisfação nem repouso. Sensações raras, deidades diversas, frutos paralelos de uma mesma secura, de uma mesma curiosidade sem força interior. O cristianismo apareceu: um só deus – e o jejum. E a era do trivial e do sublime começou...

Um povo está prestes a morrer quando já não tem força para inventar outros deuses, outros mitos, outros absurdos; seus ídolos empalidecem e desaparecem; busca outros, em outra parte, e sente-se só ante monstros desconhecidos. Também isto é a decadência. Mas se um desses monstros o vence, outro mundo se põe em movimento, rude, obscuro, intolerante até que esgota seu deus e se liberta dele; pois o homem só é livre – e estéril – nos intervalos em que os deuses morrem; escravo – criador – quando, tiranos, prosperam.

Meditar as sensações – saber que se come – é uma tomada de consciência graças à qual um ato elementar ultrapassa seu objetivo imediato. Ao lado do nojo intelectual desenvolve-se outro, mais profundo e mais perigoso: proveniente das vísceras, desemboca na forma mais grave de niilismo da repleção. As considerações mais amargas não poderiam comparar-se em seus efeitos, à visão que se segue a um festim opulento. Toda refeição que ultrapassa em duração os escassos minutos e, em iguarias, o necessário, desagrega nossas certezas. O abuso culinário e a saciedade destruíram o Império mais implacavelmente do que o fizeram as seitas orientais e as doutrinas gregas mal assimiladas. Só se experimenta um autêntico arrepio de ceticismo em trono de uma mesa copiosa. O “Reino dos Céus” devia oferecer-se como uma tentação depois de tantos excessos ou como uma surpresa deliciosamente perversa na monotonia da digestão. A fome busca na religião uma via de salvação; a saciedade, um veneno. “Salvar-se” por meio do vírus e, na indistinção das orações e dos vícios, fugir do mundo e chafurda-se nele pelo mesmo ato... esta é sem dúvida a suma das amarguras do alexandrinismo.

Há uma plenitude de diminuição em toda civilização demasiado madura. Os instintos tornam-se flexíveis; os prazeres se dilatam e não correspondem mais à sua função biológica; o prazer torna-se um fim em si, seu prolongamento uma arte, a escamoteação do orgasmo uma técnica, a sexualidade uma ciência. Procedimentos e inspirações livrescas para multiplicar as vias do desejo, a imaginação torturada para diversificar os preliminares do gozo, o espírito mesmo misturado com um setor estranho à sua natureza e sobre o qual não deveria ter nenhum domínio – tantos sintomas de empobrecimento do sangue e de intelectualização mórbida da carne. O amor concebido como ritual torna a inteligência soberana no império da besteira. Ressentem-se disto os automatismos; entravados, perdem sua impaciência por provocar uma inconfessável contorção; os nervos tornam-se o teatro de mal-estares e arrepios clarividentes e finalmente a sensação prolonga-se além de sua duração bruta graças à habilidade de dois carrascos da volúpia estudada. Trata-se do indivíduo enganando a espécie, do sangue demasiado tíbio para aturdir ainda o espírito, é o sangue esfriado e enfraquecido pelas idéias, o sangue racional.

Do diálogo nunca saiu nada monumental, explosivo, “grande”. Se a humanidade não houvesse se comprazido em discutir suas próprias forças, não teria superado a visão e os métodos de Homero. Mas a dialética, estragando a espontaneidade dos reflexos e o frescor dos mitos, reduziu o herói a um modelo titubeante. Os Aquiles de hoje devem temer mais do que um calcanhar... A vulnerabilidade, outrora parcial e sem importância, tornou-se o privilégio maldito, a essência de cada ser. A consciência penetrou em todas as partes e reside até na medula; de tal modo que o homem já não vive na existência, mas na teoria da existência...

Quem, lúcido, se compreenda, se explique, se justifique e domine seus atos, jamais fará um gesto memorável. A psicologia é o túmulo do herói. Os milhares de anos de religião e raciocínio debilitaram os músculos, a decisão e o impulso aventureiro. Como não desprezar as empresas da glória? Todo ato que não é presidido pela maldição luminosa do espírito representa uma sobrevivência da estupidez ancestral. As ideologias só foram inventadas para dar um brilho ao fundo de barbárie que se mantém através dos séculos, para cobrir as inclinações assassinas comuns a todos os homens. Hoje mata-se em nome de algo; ninguém se atreve a fazê-lo espontaneamente; de tal sorte que até os carrascos devem invocar motivos e, estando o heroísmo em desuso, quem se deixa tentar por ele, mais resolve um problema do que consome um sacrifício. A abstração insinuou-se na vida e na morte; os “complexos” apoderaram-se de grandes e pequenos. Da Ilíada à psicopatologia: este é todo o caminho do homem...

Nas civilizações em retrocesso, o crepúsculo é o sinal de um nobre castigo. Que deliciosa ironia devem experimentar ao ver-se excluídos do devir, após haver fixado durante séculos as normas do poder e os critérios do gosto! Com cada uma delas, todo um mundo se extingue. Sensações do último Grego, do último Romano! Como não deixar-se cativar pelos grandes ocasos? O encanto agônico que rodeia uma civilização, depois que abordou todos os problemas e os falseou maravilhosamente, oferece mais atrativos do que a ignorância inviolada por onde começou.

Cada civilização representa uma resposta às interrogações que o universo suscita; mas o mistério permanece intacto; outras civilizações, com novas curiosidades e deuses, se aventurarão nele, igualmente em vão, pois cada uma delas é apenas um sistema de equívocos...
No apogeu, engendram-se os valores; no crepúsculo, gastos e derrotados, são abolidos. Fascinação da decadência, das épocas em que as verdades já não têm vida... em que amontoam-se como esqueletos na alma pensativa e seca, no ossário dos sonhos...

Como me é caro este filósofo de Alexandria chamado Olimpius que, ao escutar uma voz cantar a Aleluia no Serapeion, expatriou-se para sempre! Isto aconteceu por volta do final do século IV: a sombria loucura da Cruz já lançava suas sombras sobre o Espírito. Mas ou menos na mesma época, um gramático, Paladas, por acaso escrevia; “Nós, os gregos, já não somos senão cinzas. Nossas esperanças estão tão enterradas como a dos mortos.” E isto é verdadeiro para todas as inteligências da época.

Em vão os Celso, Porfírio, Juliano o Apóstata obstinam-se em deter a invasão dessa sublimidade nebulosa que transborda das catacumbas: os apóstolos deixaram seus estigmas nas almas e multiplicaram seus estragos nas cidades. A era da grande Deformidade começa: uma histeria sem qualidade espalha-se pelo mundo. São Paulo – o agente eleitoral mais considerável de todos os tempos – fez suas excursões, infectando com suas epístolas, a claridade do crepúsculo antigo. Um epiléptico triunfa sobre cinco séculos de filosofia! A razão confiscada pelos Padres da igreja!
E se busco a data mais mortificante para o orgulho do espírito, se percorro o inventário das intolerâncias, não encontro nada comparável a este ano de 529,no qual, por ordem de Justiniano, a escola de Atenas foi fechada. Uma vez oficialmente suprimido o direito à decadência, crer torna-se uma obrigação... Este é o momento mais doloroso na história da Dúvida.

Quando um povo já não tem nenhum preconceito no sangue, só lhe resta como último recurso a vontade de desagregar-se. Imitando a música, essa disciplina da dissolução, despede-se das paixões, da dissipação lírica, do sentimentalismo, da cegueira. A partir de então, já não poderá adorar sem ironia: o sentimento das distâncias será para sempre seu atributo.

O preconceito é uma verdade orgânica, falsa em si mesma, mas acumulada pelas gerações e transmitida: não há modo de livrar-se dela impunemente. O povo que renuncia a ela sem escrúpulos renega-se sucessivamente até que não tenha mais nada a renegar. A duração e a consistência de seus preconceitos. Os povos orientais devem sua perenidade á sua fidelidade a eles mesmos: não tendo evoluído quase nada, não se traíram; não viveram, no sentido em que a vida é concebida pelas civilizações de ritmo precipitado, as únicas de que se ocupa a história; pois esta disciplina das auroras e das agonias arquejantes é um romance que se pretende rigoroso e que extrai seus temas dos arquivos do sangue...

O alexandrinismo é um período de sábias negações, um estilo de inutilidade e de recusa, um passeio de erudição e sarcasmo através da confusão dos valores e das crenças. Uma civilização evolui da agricultura ao paradoxo. Entre estes dois extremos desenvolve-se o combate entre a barbárie e a neurose: disto resulta o equilíbrio instável das épocas criadoras. Tal combate aproxima-se de seu fim; todos os horizontes se abrem sem que nenhum possa excitar uma curiosidade simultaneamente fatigada e desperta. Cabe então ao indivíduo desenganado florescer no vazio e ao vampiro intelectual saciar-se no sangue viciado das civilizações.

Deve-se levar a História a sério ou assisti-la como espectador? Ver nela um esforço na direção de uma meta ou o jogo de uma luz que se aviva e empalidece sem necessidade nem razão? A resposta depende de nosso grau de ilusão sobre o homem, de nossa curiosidade em adivinhar amaneira como se resolverá essa mistura de valsa e de matadouro que compõe e estimula seu devir. Há um mal do século, que é apenas a doença de uma geração; há outro que resulta de toda a experiência histórica e que se impõe como única conclusão para os tempos vindouros. Trata-se do “vago na alma”, da melancolia do “fim do mundo”. Tudo muda de aspecto, até o sol, tudo envelhece, até a desgraça...

Incapazes da retórica, somos os românticos da decepção clara. Hoje, Werther, Manfredo, René conhecedores de sua doença, a ostentariam sem pompa. Biologia, Fisiologia, Psicologia – nomes grotescos que, ao suprimir a ingenuidade de nosso desespero e introduzir a análise em nossos cantos, nos fazem desprezar a declamação! Filtradas pelos tratados, nossas doutas amarguras explicam nossas vergonhas e classificam nossos frenesis. Quando a consciência chegar a inclinar-se sobre todos os nossos segredos, quando for evacuado de nossa desgraça o último vestígio de mistério, guardaremos ainda um resto de febre e de exaltação para contemplar a ruína da existência e da poesia?

Sentir o peso da história, o fardo do devir e esse abatimento sob o qual se dobra a consciência quando considera o conjunto e a inanidade dos acontecimentos passados ou possíveis... A nostalgia, em vão, invoca um impulso ignorante das lições que se depreendem de tudo o que foi; há um cansaço, para o qual o próprio futuro é um cemitério, um cemitério virtual como tudo o que espera chegar a ser. Os séculos tornaram-se onerosos e pesam sobre cada instante. Estamos mais apodrecidos que todas as épocas, mais decompostos que todos os impérios. Nosso esgotamento interpreta a história, nossa prostração nos faz escutar os estertores das nações. Como atores cloróticos, nos preparamos para interpretar os papéis de parte supérflua no tempo castigado: o pano de busca do universo está roído pelas traças e, através de seus furos, só se vêem máscaras e fantasmas...

O erro dos que captam a decadência é querer combatê-la, enquanto seria preciso fomentá-la: ao desenvolver-se, esgota-se e permite o advento de outras formas. O verdadeiro precursor não é o que propõe um sistema quando ninguém o quer, mas o que precipita o Caos e é seu agente e turiferário. É uma vulgaridade apregoar dogmas em plena época extenuada da qual todo sonho de futuro parece delírio ou impostura. Encaminhar-se para o fim da história com uma flor na lapela; único traje apropriado no desenvolvimento do tempo. Que lástima que não haja um Juízo Final, que não tenhamos ocasião para um grande desafio! Os crentes: farsantes da eternidade; a fé: necessidade de uma cena intemporal... Mas nós, descrentes, morremos com nossos cenários e demasiado cansados para nos deixar enganar pelas pompas prometidas a nossos cadáveres... Segundo Mestre Eckhart, a divindade precede Deus, e é sua essência, seu fundo insondável. O que encontraríamos no mais íntimo do homem que definisse sua substância por oposição à essência divina? A neurastenia; esta é para o homem o que a divindade é para Deus.

Vivemos em um clima de esgotamento: o ato de criar, de forjar, de fabricar é menos significativo por si mesmo que pelo vazio, pela, pela queda que se segue a ele. Comprometido por nossos esforços sempre e inevitavelmente, o fundo divino e inesgotável situa-se fora do campo de nossos conceitos e de nossas sensações. O homem nasceu com a vocação da fadiga: quando adotou a posição vertical e diminuiu assim suas possibilidades de apoio, condenou-se a debilidades desconhecidas para o animal que foi. Levar sobre duas pernas tanta matéria e todas as repugnâncias ligadas a ela! As gerações acumulam a fadiga e a transmitem; nossos pais nos legam um patrimônio de anemia, reservas de desânimo, recursos de decomposição e uma energia de morte que chega a ser mais poderosa que nossos instintos de vida. E é assim que o costume de desaparecer, apoiado por nosso capital de lassidão, nos permitirá realizar, na carne difusa, a neurastenia – nossa essência...

Não há nenhuma necessidade de crer em uma verdade para sustentá-la nem de amar uma época para justificá-la, pois todo princípio é demonstrável e todo acontecimento legítimo. O conjunto dos fenômenos – frutos do espírito ou do tempo, indiferentemente – é suscetível de ser aceito ou negado segundo nossa disposição do momento: os argumentos, surgidos de nosso rigor ou do nosso capricho, equivalem-se em tudo. Nada é indefensável, desde a proposição mais absurda ao crime mais monstruoso. A história das idéias, como a dos fatos, desenrola-se em um clima insensato: quem poderia, de boa-fé, encontrar um árbitro que conciliasse os litígios desses gorilas anêmicos ou sanguinários? Este mundo é o lugar onde se pode afirmar tudo com igual verossimilhança: axiomas e delírios são intercambiáveis; ímpetos e desfalecimentos se confundem; elevações e baixezas participam de um mesmo movimento. Indique-me um só caso em defesa do qual não se pudesse encontrar nada. Os advogados do inferno não têm menos títulos de verdade que os do céu, e eu defenderia a causa do sábio e a do louco com igual fervor ou um acontecimento, quando se atualizam, tomam uma forma e se degradam. Assim, da comoção da turba dos seres derivou a História e, com ela, o único desejo puro que inspirou: que se acabe de uma maneira ou de outra.

Demasiado maduros para outras auroras, e tendo compreendido demasiados séculos para desejar outros novos, só nos resta chafurdar na escória das civilizações. A marcha do tempo só seduz ainda os imberbes e os fanáticos...

Somos os grandes decrépitos, oprimidos pelos antigos sonhos, para sempre inaptos para a utopia, técnicos de fadigas, coveiros do futuro, horrorizados pelos avatares do velho Adão. A árvore da vida não conhecerá mais primaveras: é madeira seca; com ela se farão ataúdes para nossos ossos, nossos sonhos e nossas dores. Nossa carne herdou o fedor das belas carcaças disseminadas pelos milênios. Sua glória nos fascinou e a esgotamos. No cemitério do Espírito repousam os princípios e as fórmulas: o Belo está definido e ali jaz enterrado. E também o Verdadeiro, o Bem, o Saber e os Deuses. Ali apodrecem todos (a história: âmbito onde se decompõem as maiúsculas e, com elas, os que as imaginaram e veneraram).

Passeio. Sob esta cruz dorme seu último sono a Verdade, a seu lado, o Encanto; mais diante, o Rigor e sobre uma multidão de lajes que cobrem delírios e hipóteses ergue-se o mausoléu do Absoluto: nele jazem as falsas consolações e os cumes enganosos da alma. Mas mais alto ainda, coroando esse silêncio. O Erro paira – e detém os passos do fúnebre sofista.

Como a existência do homem é a aventura mais considerável e mais estranha que a natureza já conheceu, é inevitável que seja também a mais curta; seu fim é previsível e desejável: prolongá-la indefinidamente seria indecente. Tendo percebido os riscos de sua exceção, o animal paradoxal vai jogar ainda durante séculos e mesmo milênios sua última cartada. Devemos lamentá-lo? Evidentemente jamais igualará suas glórias passadas, pois nada indica que suas possibilidades suscitem um dia um rival de Bach ou de Shakespeare. A decadência manifesta-se em primeiro lugar nas artes: a “civilização” sobrevive certo tempo à sua decomposição. Assim ocorrerá com o homem: continuará suas proezas, mas seus recursos espirituais se esgotarão, da mesma forma que o vigor de sua inspiração. A sede de poder e de domínio apossou-se demasiado de sua alma: quando for dono de tudo, já não será de seu fim. Como ainda não possui todos os meios para destruir e destruir-se, não perecerá de imediato: mas é indubitável que forjará um instrumento de aniquilação total antes de descobrir uma panacéia, a qual, de resto, não parece entrar nas possibilidades da natureza. Se aniquilará enquanto criador: devemos concluir que todos os homens desaparecerão da terra? Não é preciso ver as coisas cor-de-rosa. Uma boa, os sobreviventes, continuarão se arrastando, raça de sub-homens, exploradores do apocalipse...

Não está nas mãos do homem evitar perder-se. Seu instinto de conquista e de análise aumenta seu império para em seguida destruir o que encontra; o que acrescenta à vida volta-se contra ela. Escravo de suas criações, é – enquanto criador –, um agente do Mal. Isto é tão certo aplicado a um remendão como a um sábio, e – em um plano absoluto – ao menor inseto e a Deus. A humanidade poderia ter permanecido na estagnação e prolongado sua duração se fosse composta apenas por brutos e céticos; mas, sequiosa de eficácia, promoveu essa multidão ofegante e positiva, condenada à ruína por excesso de trabalho e curiosidade. Ávida de seu próprio pó, preparou seu fim e o prepara todos os dias. Assim, mais próxima de seu desenlace que de seu começo, só reserva a seus filhos o ardor desiludido ante o apocalipse...

A imaginação concebe facilmente um porvir em que os homens gritarão em coro: “Somos os últimos: cansados do futuro, e ainda mais de nós mesmos, extraímos o sumo da terra e despojamos os céus. Nem a miséria nem o espírito podem continuar alimentando nossos sonhos: este universo está tão seco como nossos corações. Já não há substância em parte alguma: nossos ancestrais nos legaram sua alma em farrapos e sua medula carcomida. A aventura chega ao seu fim: a consciência expira; nossos cantos se desvaneceram; eis que brilha o sol dos moribundos!”
Se, por acaso ou por milagre, as palavras se volatilizassem, mergulharíamos em uma angústia e em um embotamento intoleráveis. Tal mutismo nos exporia ao mais cruel suplício. É o uso do conceito que nos torna donos de nossos temores. Dizemos: a Morte, e esta abstração nos exime de experimentar sua infinitude e seu horror. Batizando as coisas e os acontecimentos eludimos o Inexplicável: a atividade do espírito é uma trapaça salutar, um exercício de escamoteação; permite-nos circular por uma realidade suavizada, confortável e inexata. Aprender a manejar os conceitos – desaprender a olhar as coisas... A reflexão nasceu em um dia de fuga; dela resultou a pompa verbal. Mas quando se volta a si mesmo e se está só – sem a companhia das palavras –, redescobre-se o universo inqualificado, o objeto puro, o acontecimento nu: de onde extrais a audácia para enfrentá-los? Já não se especula sobre a morte, se é a morte; em vez de adornar a vida e atribuir-lhes fins, arrancamos seus ornamentos e reduzimo-la a sua justa significação: um eufemismo para o Mal. As grandes palavras: destino, infortúnio, desgraça, despojam-se de seu brilho; e é então que se percebe a criatura brigando com órgãos enfraquecidos, vencida por uma matéria prostrada e atônita. Retire do homem a mentira da Desgraça, dê-lhe o poder de olhar por debaixo desse vocábulo: não poderá suportar um só instante sua desgraça. É a abstração, as sonoridades sem conteúdo, dilapidadas e empoladas, que o impediram de desaparecer, e não as religiões e os instintos.

Quando Adão foi expulso do Paraíso, em vez de insultar seu perseguidor, apressou-se em batizar as coisas: era a única maneira de acomodar-se com elas e de esquecê-las; foram assentadas as bases do idealismo. E o que foi apenas um gesto, uma reação de defesa no primeiro balbuciador, tornou-se teoria em Platão, Kant e Hegel.

Para não nos determos demais em nosso acidente, convertemos em entidade até nosso nome; como morrer quando nos chamamos Pedro ou Paulo? Cada um de nós, mais atento à aparência imutável de seu nome que à de seu ser, entrega-se a uma ilusão de imortalidade; uma vez desvanecida a articulação, ficaríamos totalmente sós; o místico que adota o silêncio renunciou à sua condição de criatura. Imaginemo-lo, além disso, sem fé – místico niilista – e temos o coroamento desastroso da aventura terrestre.

... É muito natural pensar que o homem, cansado das palavras, ao cabo da repetição fatidiosa do tempo, desbatizará as coisas e queimará seus nomes e o seu em um grande auto-de-fé onde sumirão suas esperanças. Todos nós corremos na direção desse modelo final, na direção do homem mudo e desnudo...

Experimento a idade da Vida, sua velhice, sua decrepitude. Desde épocas incalculáveis, transcorre sobre a superfície do globo graças ao milagre dessa falsa imortalidade que é a inércia; demora-se ainda nos reumatismos do Tempo, nesse tempo mais velho do que ela, extenuado em seu delírio senil, no fastio repetitivo de seus instantes, de sua duração caduca.

E sinto todo peso da espécie e assunto toda a sua solidão. Oxalá desaparecesse! – mas sua agonia prolonga-se em uma eternidade de podridão. Proporciono a cada instante a opção de destruir-me: não envergonhar-se de respirar é uma canalhice. Nem pacto com a vida, nem pacto com a morte: havendo desaprendido a ser, consinto em apagar-me. O devir, que crime enorme!

Exaurido por todos os pulmões, o ar já não se renova. Cada dia vomita sua manhã e em vão esforço-me para imaginar o rosto de um só desejo. Tudo me é pesado: extenuado como uma besta de carga à qual se tivesse atrelado a Matéria, arrasto os planetas.


Que me ofereçam outro universo, ou sucumbo.

Só amo a irrupção e a ruína das coisas, o fogo que as suscita e que as devora. A duração do mundo me exaspera; seu nascimento e seu desvanecimento me encantam. Viver sob a fascinação do sol virginal e do sol decrépito; saltar as pulsações do tempo para captar a original e a última..., sonhar com a improvisação dos astros e com sua decantação; desdenhar a rotina de ser e precipitar-se nos dois abismos que a ameaçam; esgotar-se no início e no término dos instantes...

... Assim se descobre dentro de si o Selvagem e o Decadente, coabitação predestinada e contraditória: dois personagens que sofrem a mesma atração da passagem, um do nada para o mundo, o outro do mundo para o nada: é a necessidade de uma dupla convulsão, em escala metafísica. Está aí a necessidade traduzir-se na escala da história, na obsessão de Adão que o Paraíso expulsou, e daquele que a Terra expulsará: os dois extremos da impossibilidade do homem.

Pelo que há de “profundo” em nós, estamos expostos a todos os males: não há salvação enquanto conservemos a conformidade com nosso ser. Algo deve desaparecer de nossa composição e uma fonte nefasta deve secar; só há uma saída: abolir a alma, suas aspirações e seus abismos; ela envenenou nossos sonhos; é preciso extirpá-la, como também sua necessidade de “profundidade”, sua fecundidade “interior”, e suas demais aberrações. O espírito e a sensação nos bastarão; de seu concurso nascerá uma disciplina da esterilidade que nos preservará dos entusiasmos e das angústias. Que nenhum “sentimento” torne a preocupar-nos, e que a “alma” se transforme na velharia mais ridícula...

[Aforismo] Vergonha do Corpo

“Por que haverá alguém de envergonhar-se de seu corpo quando este é perfeitamente sadio e capaz de desempenhar as suas funções? Não seria verdade, porventura, que uns poucos neuróticos tivessem primeiro concebido a doutrina do pecado original para justificar as próprias neuroses e que todas as gerações subseqüentes de homens normais tivessem seguido pensadores anormais como estúpidos carneiros? Não era a nossa moralidade uma fraude? Não era a felicidade o desígnio da vida? A religião, longe de ser uma aceitação é uma negação da vida.”
Nietzsche

quinta-feira, julho 12, 2007

[Poesia] O POETA DO HEDIONDO

Caveira - Van Gogh

O Poeta do Hediondo

Augusto dos Anjos

Sofro aceleradíssimas pancadas

No coração.

Ataca-me a existência

A mortificadora coalescência

Das desgraças humanas congregadas!

Em alucinatórias cavalgadas,

Eu sinto, então, sondando-me a consciência

A ultra-inquisitorial clarividência

De todas as neuronas acordadas!

Quando me dói no cérebro esta sonda!

Ah! Certamente eu sou a mais hedionda

Generalização do Desconforto...

Eu sou aquele que ficou sozinho

Cantando sobre os ossos do caminho

A poesia de tudo quanto é morto!

quarta-feira, julho 11, 2007

[Vídeo] A Lista - Oswaldo Montenegro

A Lista

Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos

Quem você mais via há dez anos atrás

Quantos você ainda vê todo dia

Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha

Quantos você já desistiu de sonhar!

Quantos amores jurados pra sempre

Quantos você conseguiu preservar

Onde você ainda se reconhece

Na foto passada ou no espelho de agora

Hoje é do jeito que achou que seria?

Quantos amigos você jogou fora

Quantos mistérios que você sondava

Quantos você conseguiu entender

Quantos segredos que você guardava

Hoje são bobos ninguém quer saber

Quantas mentiras você condenava

Quantas você teve que cometer

Quantos defeitos sanados com o tempo

Eram o melhor que havia em você

Quantas canções que você não cantava

Hoje assobia pra sobreviver

Quantas pessoas que você amava

Hoje acredita que amam você

Faça uma lista de grandes amigos

Quem você mais via há dez anos atrás

Quantos você ainda vê todo dia

Quantos você já não encontra mais

Quantos segredos que você guardava

Hoje são bobos ninguém quer saber

Quantas pessoas que você amava

Hoje acredita que amam você

sexta-feira, junho 29, 2007

[Filosofia] A Fuga da Cruz

A Fuga da Cruz


Autor: Emile Michel Cioran
Tradução: Renato Suttana
Fonte: On the heights of despair

Não gosto de profetas mais do que gosto de fanáticos que nunca duvidaram de sua missão. Meço o valor dos profetas pela sua habilidade em duvidar, pela freqüência de seus momentos de lucidez. A dúvida os torna verdadeiramente humanos, mas a sua dúvida é mais impressionante do que a das pessoas comuns. Tudo o mais neles é apenas absolutismo, pregação, didatismo moral. Querem ensinar os outros, proporcionar-lhes salvação, mostrar-lhes a verdade, mudar os seus destinos, como se as verdades deles fossem melhores do que as verdades alheias. Só a dúvida pode distinguir os profetas dos maníacos. Mas já não é tarde demais para que duvidem? Aquele que pensou ser o filho de Deus apenas duvidou no último momento. Cristo duvidou realmente não na montanha, mas na cruz. Estou convencido de que na cruz Jesus invejou o destino dos anônimos e, pudesse tê-lo feito, haveria se retirado para o canto mais obscuro do mundo, onde ninguém lhe implorasse por esperança ou salvação. Posso imaginá-lo a sós com os soldados romanos, pedindo a eles que o apeassem da cruz, que arrancassem os cravos e o deixassem escapar para onde os ecos do sofrimento humano não o alcançassem mais. Não porque subitamente cessasse de crer em sua missão – era iluminado demais para ser um cético –, mas porque a morte pelos outros é mais difícil de suportar do que a própria morte. Jesus sofreu a crucificação, porque sabia que suas idéias só poderiam triunfar mediante seu próprio sacrifício.

As pessoas dizem: para acreditarmos em ti, precisas renunciar a tudo o que é teu e também a ti mesmo. Querem tua morte como garantia da autenticidade de tuas crenças. Por que admiram as obras escritas com sangue? Porque essas obras lhes poupam qualquer sofrimento, ao mesmo tempo em que preservam a ilusão do sofrimento. Querem enxergar o sangue e as lágrimas por trás de tuas linhas. A admiração da massa é sádica.

Não tivesse Jesus perecido na cruz, e a cristandade não haveria triunfado. Os mortais duvidam de tudo, exceto da morte. A morte de Cristo foi para eles a prova cabal da validade dos princípios cristãos. Jesus poderia ter escapado facilmente à crucificação ou poderia ter se rendido ao demônio! Aquele que não fez um pacto com o demônio não deveria viver, porquanto o demônio simboliza a vida mais do que Deus. Se tenho do que me lamentar, é que o demônio raramente me tentou... mas também Deus não me amou. Os cristãos ainda não entenderam que Deus está mais distante deles do que eles de Deus. Posso perfeitamente imaginar a Deus se aborrecendo com os homens, que sabem apenas implorar, exasperado com a trivialidade de sua criação, igualmente desgostoso tanto do céu quanto da terra. E o vejo em fuga para o nada, tal como Jesus escapando da cruz... O que teria acontecido se os soldados romanos houvessem atendido à súplica de Jesus, se o tivessem descido da cruz e o tivessem deixado escapar? Certamente ele não iria para outra parte do mundo a fim de rezar, mas apenas para morrer, sozinho, fora da simpatia ou das lágrimas do povo. E, mesmo supondo que, pelo seu orgulho, ele não implorou por liberdade, acho difícil crer que esse pensamento não o tenha obsedado. Ele deve ter acreditado verdadeiramente que era o filho de Deus. Não obstante sua crença, ele não teria como não duvidar ou não ser tomado pelo medo da morte na hora de seu sacrifício supremo. Na cruz, Jesus teve momentos em que, se não duvidou de que era o filho de Deus, se arrependeu disso. Aceitou a morte unicamente para que suas idéias triunfassem.

Pode muito bem ser que Jesus fosse mais simples do que o imagino, que tivesse menos dúvidas e menos pesares, pois duvidou de sua origem divina apenas na hora da morte. Nós, por outro lado, temos tantas dúvidas e arrependimentos que nenhum de nós, sequer, ousaria sonhar ser o filho de um deus. Odeio Jesus pelas suas pregações, pela sua moralidade, pelas suas idéias e sua fé. Amo-o pelos seus momentos de dúvida e pesar, os únicos realmente trágicos de sua vida, embora não os mais interessantes nem os mais dolorosos, pois, se tivéssemos de julgar pelos sofrimentos, quantos outros antes dele não teriam sido mais dignos de serem chamados de filhos de Deus!

[Vídeo] A Cegonha é o pássaro da guerra

A Cegonha é o pássaro simbolo da GUERRA...

Comprovem assistindo o video

Mais informações em:

VHEMT

[Fragmentos] Como relacionar regras absolutas

Como co-relacionar mais de um sistema absolutista?

“O problema mais gritante de sistemas absolutistas, como os Dez Mandamentos, é que, quando há mais de uma regra absoluta, torna-se possível o surgimento de conflitos entre elas. Assim, poder-se-ia perguntar se é algo apropriado assassinar para prevenir um roubo. É permitido roubar para prevenir um assassinato? Deveríamos mentir se tivéssemos uma boa razão para acreditar que a verdade faria com que o indivíduo morresse de ataque cardíaco? É apropriado mentir para evitar ser assassinado? É lícito quebrar o sábado santo para salvar a vida de alguém? Seria correto roubarmos um carro se soubéssemos que isso evitaria que seu dono trabalhasse no sábado santo ou matasse alguém? Deveríamos honrar a vontade de nossos pais se eles nos pedissem para quebrar algum dos outros mandamentos? Deveríamos roubar nossos pais se, ao fazê-lo, talvez estivéssemos prevenindo um assassinato? Todos tipos de dilema como esses são possíveis. (...) Isso demonstra que não podemos viver baseados em princípios absolutos e abstratos. Precisamos relacioná-los à vida e às necessidades humanas.”

Frederick Edword

[Video] Earthlings

Distribuição da culpa:

Nada contra os carnívoros (Sou um deles), nada contra as pessoas que usam couro e pele de animais (Sou uma delas), porém é necessário que as pessoas que o fazem, tenham consciência de como a carne que ingerem e as roupas e acessórios que usam são produzidos.

É muito fácil ser carnívoro, usar um jaquetão de couro enquanto se vive na cômoda e alegre ignorância...

Mas o mundo não é bonito, não é limpo e muito menos justo.

Se quiserem continuar sendo carnívoros, indo a rodeios e circos, usando couro...Que percam a vantagem da ingenuidade e inconsciência e o façam consciente das atrocidades que são causadas por esses hábitos...

Que a culpa que sinto ao comer um bife seja compartilhada com todos, se não tenho o direito a ignorância salutar também não vou da-lo a outrem

Earthlings:

Earthlings (Terráqueos, em português) é um documentário estadunidense de 2005, escrito, produzido e dirigido por Shaun Monson e co-produzido por Persia White.

É narrado pelo ator e ativista dos direitos animais Joaquin Phoenix, que também é vegano e membro da PETA, maior organização de defesa dos direitos animais do mundo. A trilha sonora foi composta exclusivamente para o documentário pelo músico Moby.

Sinopse:

O filme mostra como funcionam as fazendas industriais e relata a dependência da humanidade sobre os animais para obter alimentação, vestuário e diversão, além do uso em experimentos científicos. Compara o especismo da espécie humana com outras relações de dominação, como o racismo e o sexismo.

Informações sobre o filme:

O filme faz estudo detalhado das lojas de animais, das fábricas de filhotes e dos abrigos para animais, assim como das fazendas industriais, do comércio de peles e de couro, das indústrias da diversão e esportes, e finalmente, do uso médico e científico.

Terráqueos usa câmeras escondidas para detalhar as práticas diárias de algumas das maiores indústrias do mundo, todas visando o lucro com os animais.

O documentário levou cinco anos para ser produzido e, o que começou como uma série de uma campanha de conscientização pública sobre castração de animais de estimação, se tornou um longa-metragem que buscou tratar de cada tema principal relacionado com os animais.

Shaun Monson começou as filmagens para as campanhas de conscientização na Califórnia, no Estados Unidos. Assim que as filmagens terminaram, Monson passou a se interessar por outras áreas correlatas, como alimentação e pesquisa científica. Nesse meio tempo, ele acumulou uma pequena biblioteca, colhida em várias organizações, e começou a escrever um roteiro.

Assistam:

[Filosofia] A Arrogância da Oração

A Arrogância da Oração

Autor: Emile Michel Cioran
Tradução: Jose Thomaz Brum
Fonte:
Breviário de Decomposição

Quando se chega ao limite do monólogo, aos confins da solidão, inventa-se – na falta de outro interlocutor – Deus, pretexto supremo de diálogo. Enquanto o nomeias, tua demência está bem disfarçada e... tudo te é permitido. O verdadeiro crente mal se distingue do louco; mas sua loucura é legal, admitida; acabaria em um asilo se suas aberrações estivessem livres de toda fé. Mas Deus as cobre, as torna legítimas. O orgulho de um conquistador empalidece comparado à ostentação do devoto que dirige-se ao Criador. Como se pode ser tão atrevido? E como poderia ser a modéstia uma virtude dos templos, quando uma velha decrépita, que imagina o Infinito a seu alcance, eleva-se pela oração a um nível de audácia ao qual nenhum tirano jamais aspirou?

Sacrificaria o império do mundo por um só momento em que minhas mãos juntas implorassem ao grande Responsável de nossos enigmas e de nossas banalidades. Entretanto, esse momento constitui a qualidade corrente – e como que o tempo oficial – de qualquer crente. Mas quem é verdadeiramente modesto repete a si mesmo: “Demasiado humilde para rezar, demasiado inerte para transpor o limiar de uma igreja, resigno-me à minha sombra e não quero uma capitulação de Deus ante minhas orações”. E aos que lhe propõem a imortalidade, responde: “Meu orgulho não é inesgotável: seus recursos são limitados. Pensam, em nome da fé, vencer seu eu; na realidade, desejam perpetuá-lo na eternidade, pois não lhes basta esta duração presente. Sua soberba excede em refinamento todas as ambições do século. Que sonho de glória, comparado ao seu, não se revela engano e vã ilusão? Sua fé é apenas um delírio de grandeza tolerado pela comunidade, porque utiliza caminhos camuflados; mas seu pó é sua única obsessão: gulosos do intemporal, perseguem o tempo que o dispersa. Só o além é bastante espaçoso para suas cobiças; a terra e seus instantes parecem demasiado frágeis. A megalomania dos conventos supera tudo o que jamais imaginaram as febres suntuosas dos palácios. Quem não admite sua nulidade é um doente mental. E o crente, entre todos, é o menos disposto a consentir. A vontade de durar, levada até tal ponto, apavora-me. Recuso-me à sedução malsã de um Eu indefinido. Quero chafurdar-me em minha mortalidade. Quero permanecer normal.”

(Senhor, dá-me a faculdade de jamais rezar, poupa-me a insanidade de toda adoração, afasta de mim essa tentação de amor que me entregaria para sempre a Ti. Que o vazio se estenda entre meu coração e o céu! Não desejo ver meus desertos povoados com Tua presença, minhas noites tiranizadas por Tua luz, minhas Sibérias fundidas sob Teu sol. Mais solitário do que Tu, quero minhas mãos puras, ao contrário das Tuas que sujaram-se para sempre ao modelar a terra e ao misturar-se nos assuntos do mundo. Só peço à Tua estúpida onipotência respeito para minha solidão e meus tormentos. Não tenho nada a fazer com Tuas palavras. Concede-me o milagre recolhido antes do primeiro instante, a paz que Tu não pudeste tolerar e que Te incitou a abrir uma brecha no nada para inaugurar esta feira dos tempos, e para condenar-me assim ao universo, à humilhação e à vergonha de existir.)

quarta-feira, junho 27, 2007

[Video] Where You Can't Follow - Horrorpops

Where You Can't Follow

Horrorpops

I won't stay here no more
Gone where you can't follow
I know what i saw
Im choosing the door

I'm briefing you shortly
You're gonna lose
No matter how you try
Your just gonna abuse
Your last breath
I've been watching you mind
You've only been working
On another me
A smiling female machine
So you can love me more

You can kneel and cry
And tell me why
But it's not gonna change
{i can} feel these tears so clear
When i close my eyes
Burned in my conscience
Is the two of you
Close enough- but not too close
I saw you both
And my heart burned

[Poesia] Madrigal Triste

(Vampire, 1893-4 de E. Munch)

Madrigal triste


I

Que m'importe que tu sois sage ?
Sois belle ! et sois triste ! Les pleurs
Ajoutent un charme au visage,
Comme le fleuve au paysage ;
L'orage rajeunit les fleurs.


Je t'aime surtout quand la joie
S'enfuit de ton front terrassé ;
Quand ton coeur dans l'horreur se noie ;
Quand sur ton présent se déploie
Le nuage affreux du passé.


Je t'aime quand ton grand oeil verse
Une eau chaude comme le sang ;
Quand, malgré ma main qui te berce,
Ton angoisse, trop lourde, perce
Comme un râle d'agonisant.


J'aspire, volupté divine !
Hymne profond, délicieux !
Tous les sanglots de ta poitrine,
Et crois que ton coeur s'illumine
Des perles que versent tes yeux !


II


Je sais que ton coeur, qui regorge
De vieux amours déracinés,
Flamboie encor comme une forge,
Et que tu couves sous ta gorge
Un peu de l'orgueil des damnés ;


Mais tant, ma chère, que tes rêves
N'auront pas reflété l'Enfer,
Et qu'en un cauchemar sans trêves,
Songeant de poisons et de glaives,
Eprise de poudre et de fer,

N'ouvrant à chacun qu'avec crainte,
Déchiffrant le malheur partout,
Te convulsant quand l'heure tinte,
Tu n'auras pas senti l'étreinte
De l'irrésistible Dégoût,


Tu ne pourras, esclave reine
Qui ne m'aimes qu'avec effroi,
Dans l'horreur de la nuit malsaine,
Me dire, l'âme de cris pleine :
" Je suis ton égale, Ô mon Roi ! "


(Recueil : Les fleurs du mal)

sábado, junho 23, 2007

[Aforismos] Onde estão os deuses mortos?

(A Deposição de Cristo, Caravaggio)

“Onde fica o cemitério dos deuses mortos?

Algum enlutado ainda regará as flores de seus túmulos?

Houve uma época em que Júpiter era o rei dos deuses, e qualquer homem que duvidasse de seu poder era ipso facto um bárbaro ou um quadrúpede. Haverá hoje um único homem no mundo que adore Júpiter?

E que fim levo Huitzilopochtli? Em um só ano – e isto foi há apenas cerca de quinhentos anos – 50 mil rapazes e moças foram mortos em sacrifício a ele. Hoje, se alguém se lembra dele, só pode ser um selvagem errante perdido nos cafundós da floresta mexicana.

Falando em Huitzilopochtli, logo vem à memória seu irmão Tezcatilpoca. Tezcatilpoca era quase tão poderoso: devorava 25mil virgens por ano. Levem-me a seu túmulo: prometo chorar e depositar uma couronne des perles. Mas quem sabe onde fica? (...)

Arianrod, Nuada, Argetlam, Morrigu, Tagd, Govannon, Goibniu, Gunfled, Odim, Dagda, Ogma, Ogurvan, Marzin, Dea Dia, Marte, Iuno Lucina, Diana de Éfeso, Saturno, Robigus, Furrina, Plutão, Cronos, Vesta, Engurra, Zer-panitu, Belus, Merodach, Ubililu, Elum, U-dimmer-an-kia, Marduk, U-sab-sib, Nin, U-Mersi, Perséfone, Tammuz, Istar, Vênus, Lagas , Belis, Nirig, Nusku, Nebo, Aa, En-Mersi, Sin, Assur, Apsu, Beltu, Elali, Kusky-banda, Mami, Nin-azu, Zaraqu, Qarradu, Zagaga, Ueras.

Peça ao seu vigário que lhe empreste um bom livro sobre religião comparada: você encontrará todos eles devidamente listados. Todos foram deuses da mais alta dignidade – deuses de povos civilizados –, adorados e venerados por milhões. Todos eram onipotentes, oniscientes e imortais.

E todos estão mortos.”

H. L. Mencken

sexta-feira, junho 22, 2007

[Vídeo] Nietzsche - Vida e Obra

Esse vídeo apresenta apresenta um apanhado geral sobre a Vida e Obra de Nietzsche, o encontrei por intermédio de um post na comunidade Filosofia-UFMT, muito bem elaborado.

Postarei abaixo as informações que consegui encontrar sobre os autores, caso algum dado esteja incorreto, podem me avisar que eu retifico o engano.

Dados sobre o video:

Trabalho de Sociologia

Profº José Roberto

Voz/Edição: Rogério Souza

Pesquisa: Cândido Jr., José Jr., Newton Neto, Rodolfo Carvalho, Rogério Souza.

[Pessoal] Como saber se gosto de você.

(Virgílio recitando a Eneida a Augusto
Pintura de Jean August Diminique Ingres)

Certas pessoas dizem que por eu ser dissimulado e um tanto quanto manipulador é extremamente dificil saber o que realmente penso e se realmente gosto das pessoas ou estou fingindo...
Fiquei ruminando isso um tempo e acabei por perceber que há uma maneira fácil de saber se eu gosto das pessoas ou não, quase ninguém percebe, mas conversando com amigos antigos e perguntando se eu realmente fazia tais coisas, as minhas suposições se fizeram verdadeiras...

Como saber se eu gosto de você?

Imaginem a seguinte cena... Eu (Barata) estou em algum lugar hipotético, sentado, conversando com alguns amigos em volta e VOCÊ(Pessoa que quer saber se eu gosto ou não) acabou de chegar no local e está na hora dos comprimentos...

Vamos as minhas reações:

*Não levanto, não olho na sua cara e não lhe estendo a mão.
(NÃO GOSTO DE VOCÊ, e se ficar bobeando na minha frente é bem provável que eu parta para agressão física)

*Não levanto, lhe estendo a mão, mas não olho na sua cara.
(Não gosto de você, mas é provavel que não lhe "meta a mão na cara" por termos amigos em comum ou algum motivo do gênero)

*Não levanto, lhe estendo a mão e olho na sua cara.
(Não gosto de você, mas você não fede nem cheira, portanto, até converso amigavelmente)

*Não levanto, lhe estendo a mão, cubro ela com a outra e olho na sua cara .
(Até gosto de você, mas nada mais do que gosto de animais de rua, e gosto mais DELES)

*Levanto, estendo a mão e olho na sua cara.
(Gosto de você, mas não temos intimidade e você logo pode ser rebaixado de categoria)

*Levanto, lhe estendo a mão, cubro ela com a outra e olho na sua cara.
(Gosto de você, e mesmo não tendo intimidade vc tem grande potencial em consegui-la)

*Levanto e lhe estendo a mão.
(Gosto de você, e mesmo nao tendo intimidade está a um passo de te-la)

*Levanto e lhe abraço.
(Gosto muito de vc e já temos certa intimidade e liberdade um com o outro)

*Levanto, vou até vc e lhe abraço.
(Gosto muito de vc, mais do que da grande maioria e lhe considero um bom amigo)

*Levanto, vou até vc, lhe abraço e lhe beijo o rosto.
(Realmente gosto de você, lhe considero muito amigo e provavelmente me machucaria muito por você)

-Os últimos dois itens estão quase no mesmo patamar, já que tem pessoas que aceitam ser beijadas no rosto e outras que não gostam.

Me surpreendo as vezes como temos reações tão significantes e não percebemos, eu mesmo, tive que fazer retrospectiva para me aperceber disso...

[Filosofia] O que é Esclarecimento?

Estamos estudando nas aulas de Introdução a Filosofia o texto O que é Esclarecimento? de Kant e para ter maior acesso a ele, discutir sobre com as pessoas e mesmo dividi-lo com quem tiver interesse, resolvi posta-lo aqui no Blog.

Resposta à pergunta: O que é esclarecimento?

de Immanuel Kant
(1784)
Esclarecimento [Aufklärung] é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento [Aufklärung].


A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter maiorennes), continuem no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A imensa maioria da humanidade (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e além do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a supervisão dela. Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranqüilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de algumas quedas. Basta um exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em geral para não fazer outras tentativas no futuro.


É difícil portanto para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumentos mecânicos do uso racional, ou antes do abuso, de seus dons naturais, são os grilhões de uma perpétua menoridade. Quem deles se livrasse só seria capaz de dar um salto inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, porque não está habituado a este movimento livre. Por isso são muitos poucos aqueles que conseguiram, pela transformação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender então uma marcha segura.


Que, porém, um público se esclareça [aufkläre] a si mesmo é perfeitamente possível; mais que isso, se lhe for dada a liberdade, é quase inevitável. Pois encontrar-se-ão sempre alguns indivíduos capazes de pensamento próprio, até entre os tutores estabelecidos da grande massa, que, depois de terem sacudido de si mesmos o jugo da menoridade, espalharão em redor de si o espírito de uma avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada homem em pensar por si mesmo. O interessante nesse caso é que o público, que anteriormente foi conduzido por eles a este jugo, obriga-os daí em diante a permanecer sob ele, quando é levado a se rebelar por alguns de seus tutores que, eles mesmos, são incapazes de qualquer esclarecimento [Aufklärung]. Vê-se assim como é prejudicial plantar preconceitos, porque terminam por se vingar daqueles que foram seus autores ou predecessores destes. Por isso, um público só muito lentamente pode chegar ao esclarecimento [Aufklärung]. Uma revolução poderá talvez realizar a queda do despotismo pessoal ou da opressão ávida de lucros ou de domínios, porém nunca produzirá a verdadeira reforma do modo de pensar. Apenas novos preconceitos, assim como os velhos, servirão como cintas para conduzir a grande massa destituída de pensamento.


Para este esclarecimento [Aufklärung] porém nada mais se exige senão LIBERDADE. E a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a saber: a de fazer um uso público de sua razão em todas as questões. Ouço, agora, porém, exclamar de todos os lados: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, mas exercitai-vos! O financista exclama: não raciocinei, mas pagai! O sacerdote proclama: não raciocineis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis aqui por toda a parte a limitação da liberdade. Que limitação, porém, impede o esclarecimento [Aufklärung]? Qual não o impede, e até mesmo favorece? Respondo: o uso público de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode realizar o esclarecimento [Aufklärung] entre os homens. O uso privado da razão pode, porém, muitas vezes ser muito estreitamente limitado, sem contudo por isso impedir notavelmente o progresso do esclarecimento [Aufklärung]. Entendo, contudo, sob o nome de uso público de sua própria razão aquele que qualquer homem, enquanto SÁBIO, faz dela diante do grande público do mundo letrado. Denomino uso privado aquele que o sábio pode fazer de sua razão em um certo cargo público ou função a ele confiado. Ora, para muitas profissões que se exercem no interesse da comunidade, é necessário um certo mecanismo, em virtude do qual alguns membros da comunidade devem comportar-se de modo exclusivamente passivo para serem conduzidos pelo governo, mediante uma unanimidade artificial, para finalidades públicas, ou pelo menos devem ser contidos para não destruir essa finalidade. Em casos tais, não é sem dúvida permitido raciocinar, mas deve-se obedecer. Na medida, porém, em que esta parte da máquina se considera ao mesmo tempo membro de uma comunidade total, chegando até a sociedade constituída pelos cidadãos de todo o mundo, portanto na qualidade de sábio que se dirige a um público, por meio de obras escritas de acordo com seu próprio entendimento, pode certamente raciocinar, sem que por isso sofram os negócios a que ele está sujeito em parte como membro passivo. Assim, seria muito prejudicial se um oficial, a que seu superior deu uma ordem, quisesse pôr-se a raciocinar em voz alta no serviço a respeito da conveniência ou da utilidade dessa ordem. Deve obedecer. Mas, razoavelmente, não se lhe pode impedir, enquanto homem versado no assunto, fazer observações sobre os erros no serviço militar, e expor essas observações ao seu público, para que as julgue. O cidadão não pode se recusar a efetuar o pagamento dos impostos que sobre ele recaem; até mesmo a desaprovação impertinente dessas obrigações, se devem ser pagas por ele, pode ser castigada como um escândalo (que poderia causar uma desobediência geral). Exatamente, apesar disso, não age contrariamente ao dever de um cidadão se, como homem instruído, expõe publicamente suas idéias contra a inconveniência ou a injustiça dessas imposições. Do mesmo modo também o sacerdote está obrigado a fazer seu sermão aos discípulos do catecismo ou à comunidade, de conformidade com o credo da Igreja a que serve, pois foi admitido com esta condição. Mas, enquanto sábio, tem completa liberdade, e até mesmo o dever, de dar conhecimento ao público de todas as suas idéias, cuidadosamente examinadas e bem intencionadas, sobre o que há de errôneo naquele credo, e expor suas propostas no sentido da melhor instituição da essência da religião e da Igreja. Nada existe aqui que possa constituir um peso na consciência. Pois aquilo que ensina em decorrência de seu cargo como funcionário da Igreja, expõe-no como algo em relação ao qual não tem o livre poder de ensinar como melhor lhe pareça, mas está obrigado a expor segundo a prescrição de um outro e em nome deste. Poderá dizer: nossa igreja ensina isto ou aquilo; estes são os fundamentos comprobatórios de que ela se serve.


Tira então toda utilidade prática para sua comunidade de preceitos que ele mesmo não subscreveria com inteira convicção, em cuja apresentação pode contudo se comprometer, porque não é de todo impossível que em seus enunciados a verdade esteja escondida. Em todo caso, porém, pelo menos nada deve ser encontrado aí que seja contraditório com a religião interior. Pois se acreditasse encontrar esta contradição não poderia em sã consciência desempenhar sua função, teria de renunciar. Por conseguinte, o uso que um professor empregado faz de sua razão diante de sua comunidade é unicamente um uso privado, porque é sempre um uso doméstico, por grande que seja a assembléia. Com relação a esse uso ele, enquanto padre, não é livre nem tem o direito de sê-lo, porque executa uma incumbência estranha. Já como sábio, ao contrário, que por meio de suas obras fala para o verdadeiro público, isto é, o mundo, o sacerdote, no uso público de sua razão, goza de ilimitada liberdade de fazer uso de sua própria razão e de falar em seu próprio nome. Pois o fato de os tutores do povo (nas coisas espirituais) deverem ser eles próprios menores constitui um absurdo que dá em resultado a perpetuação dos absurdos.


Mas não deveria uma sociedade de eclesiásticos, por exemplo, uma assembléia de clérigos, ou uma respeitável classe (como a si mesma se denomina entre os holandeses) estar autorizada, sob juramento, a comprometer-se com um certo credo invariável, a fim de por este modo de exercer uma incessante supertutela sobre cada um de seus membros e por meio dela sobre o povo, e até mesmo a perpetuar essa tutela? Isto é inteiramente impossível, digo eu. Tal contrato, que decidiria afastar para sempre todo ulterior esclarecimento [Aufklärung] do gênero humano, é simplesmente nulo e sem validade, mesmo que fosse confirmado pelo poder supremo, pelos parlamentos e pelos mais solenes tratados de paz. Uma época não pode se aliar e conjurar para colocar a seguinte em um estado em que se torne impossível para esta ampliar seus conhecimentos (particularmente os mais imediatos), purificar-se dos erros e avançar mais no caminho do esclarecimento [Aufklärung]. Isto seria um crime contra a natureza humana, cuja determinação original consiste precisamente neste avanço. E a posteridade está, portanto, plenamente justificada em repelir aquelas decisões, tomadas de modo não autorizado e criminoso. Quanto ao que se possa estabelecer como lei para um povo, a pedra de toque está na questão de saber se um povo se poderia ter ele próprio submetido a tal lei. Seria certamente possível, como se à espera de lei melhor, por determinado e curto prazo, e para introduzir certa ordem. Ao mesmo tempo, se franquearia a qualquer cidadão, especialmente ao de carreira eclesiástica, na qualidade de sábio, o direito de fazer publicamente, isto é, por meio de obras escritas, seus reparos a possíveis defeitos das instituições vigentes. Estas últimas permaneceriam intactas, até que a compreensão da natureza de tais coisas se tivesse estendido e aprofundado, publicamente, a ponto de tornar-se possível levar à consideração do trono, com base em votação, ainda que não unânime, uma proposta no sentido de proteger comunidades inclinadas, por sincera convicção, a normas religiosas modificadas, embora sem detrimento dos que preferissem manter-se fiéis às antigas. Mas é absolutamente proibido unificar-se em uma constituição religiosa fixa, de que ninguém tenha publicamente o direito de duvidar, mesmo durante o tempo de vida de um homem, e com isso por assim dizer aniquilar um período de tempo na marcha da humanidade no caminho do aperfeiçoamento, e torná-lo infecundo e prejudicial para a posteridade. Um homem sem dúvida pode, no que respeita à sua pessoa, e mesmo assim só por algum tempo, na parte que lhe incumbe, adiar o esclarecimento [Aufklärung]. Mas renunciar a ele, quer para si mesmo quer ainda mais para sua descendência, significa ferir e calcar aos pés os sagrados direitos da humanidade. O que, porém, não é lícito a um povo decidir com relação a si mesmo, menos ainda um monarca poderia decidir sobre ele, pois sua autoridade legislativa repousa justamente no fato de reunir a vontade de todo o povo na sua. Quando cuida de toda melhoria, verdadeira ou presumida, coincida com a ordem civil, pode deixar em tudo o mais que seus súditos façam por si mesmos o que julguem necessário fazer para a salvação de suas almas. Isto não lhe importa, mas deve apenas evitar que um súdito impeça outro por meios violentos de trabalhar, de acordo com toda sua capacidade, na determinação e na promoção de si. Causa mesmo dano a sua majestade quando se imiscui nesses assuntos, quando submete à vigilância do seu governo os escritos nos quais seus súditos procuram deixar claras suas concepções. O mesmo acontece quando procede assim não só por sua própria concepção superior, com o que se expõe à censura: Ceaser non est supra grammaticos, mas também e ainda em muito maior extensão, quando rebaixa tanto seu poder supremo que chega a apoiar o despotismo espiritual de alguns tiranos em seu Estado contra os demais súditos.


Se for feita então a pergunta: “vivemos agora uma época esclarecida [aufgeklärten]”?, a resposta será: “não, vivemos em uma época de esclarecimento [Aufklärung]. Falta ainda muito para que os homens, nas condições atuais, tomados em conjunto, estejam já numa situação, ou possam ser colocados nela, na qual em matéria religiosa sejam capazes de fazer uso seguro e bom de seu próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem. Somente temos claros indícios de que agora lhes foi aberto o campo no qual podem lançar-se livremente a trabalhar e tornarem progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento [Aufklärung] geral ou à saída deles, homens, de sua menoridade, da qual são culpados. Considerada sob este aspecto, esta época é a época do esclarecimento [Aufklärung] ou o século de Frederico.


Um príncipe que não acha indigno de si dizer que considera um dever não prescrever nada aos homens em matéria religiosa, mas deixar-lhes em tal assunto plena liberdade, que portanto afasta de si o arrogante nome de tolerância, é realmente esclarecido [aufgeklärt] e merece ser louvado pelo mundo agradecido e pela posteridade como aquele que pela primeira vez libertou o gênero humano da menoridade, pelo menos por parte do governo, e deu a cada homem a liberdade de utilizar sua própria razão em todas as questões da consciência moral. Sob seu governo os sacerdotes dignos de respeito podem, sem prejuízo de seu dever funcional expor livre e publicamente, na qualidade de súditos, ao mundo, para que os examinasse, seus juízos e opiniões num ou noutro ponto discordantes do credo admitido. Com mais forte razão isso se dá com os outros, que não são limitados por nenhum dever oficial. Este espírito de liberdade espalha-se também no exterior, mesmo nos lugares em que tem de lutar contra obstáculos externos estabelecidos por um governo que não se compreende a si mesmo. Serve de exemplo para isto o fato de num regime de liberdade a tranqüilidade pública e a unidade da comunidade não constituírem em nada motivo de inquietação. Os homens se desprendem por si mesmos progressivamente do estado de selvageria, quando intencionalmente não se requinta em conservá-los nesse estado.


Acentuei preferentemente em matéria religiosa o ponto principal do esclarecimento [Aufklärung], a saída do homem de sua menoridade, da qual tem a culpa. Porque no que se refere às artes e ciências nossos senhores não têm nenhum interesse em exercer a tutela sobre seus súditos, além de que também aquela menoridade é de todas a mais prejudicial e a mais desonrosa. Mas o modo de pensar de um chefe de Estado que favorece a primeira vai ainda além e compreende que, mesmo no que se refere à sua legislação, não há perigo em permitir a seus súditos fazer uso público de sua própria razão e expor publicamente ao mundo suas idéias sobre uma melhor compreensão dela, mesmo por meio de uma corajosa crítica do estado de coisas existentes. Um brilhante exemplo disso é que nenhum monarca superou aquele que reverenciamos.


Mas também somente aquele que, embora seja ele próprio esclarecido [aufgeklärt], não tem medo de sombras e ao mesmo tempo tem à mão um numeroso e bem disciplinado exército para garantir a tranqüilidade pública, pode dizer aquilo que não é lícito a um Estado livre ousar: raciocinais tanto quanto quiserdes e sobre qualquer coisa que quiserdes; apenas obedecei! Revela-se aqui uma estranha e não esperada marcha das coisas humanas; como, aliás, quando se considera esta marcha em conjunto, quase tudo nela é um paradoxo. Um grau maior de liberdade civil parece vantajoso para a liberdade de espírito do povo e, no entanto, estabelece para ela limites intransponíveis; um grau menor daquela dá a esse espaço o ensejo de expandir-se tanto quanto possa. Se, portanto, a natureza por baixo desse duro envoltório desenvolveu o germe de que cuida delicadamente, a saber, a tendência e a vocação ao pensamento livre, este atua em retorno progressivamente sobre o modo de sentir do povo (com o que este se torna capaz cada vez mais de agir de acordo com a liberdade), e finalmente até mesmo sobre os princípios do governo, que acha conveniente para si próprio tratar o homem, que agora é mais do que simples máquina, de acordo com a sua dignidade.

[Pessoal]Eu e a Vingança, a Vingança e Eu...

(Nêmesis, de Alfred Rethel (1837)

Hoje estou com preguiça de escrever e portanto recorri a Wikipédia(Afinal, rarissimas vezes conseguimos articular uma idéia que já não foi dita).

Porém antes da definição própriamente dita, necessito fazer um adendo.

Já a muito tempo que as pessoas percebem a minha inabilidade em esquecer injúrias, eu simplesmente não consigo "deixar barato", antes isso era raro, mas com o aumento da misantropia e ódio a maioria dos seres "ditos" humanos isso tem se tornado um problema...

Afinal, eu revido. Pode demorar, podem esquecer, mas tenham certeza, qualquer injúria será retaliada, por menor que seja, e com um intensidade MUITO maior do que a que foi causada.

Agora o problema... Me tornei uma pessoa extremamente ranzinza, irritadiça e mal-humorada, e esse ódio toma muito de meu tempo e energia, definitivamente eu preciso voltar a me tratar antes que alguém se machuque sériamente....DE NOVO...

Porém, até que eu realmente tome uma iniciativa verdadeira e consistente para o controle desses sentimentos, só uma coisa é certa...EU SEMPRE REVIDO...

Agora a definição prometida:

A Vingança consiste na retaliação contra uma pessoa ou grupo em resposta a algo que foi percebido ou sentido como prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que construtivo. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar pelo que passou e/ou garantir que não seja capaz de repetir a ação nunca mais. A ética da vingança é acaloradamente debatida na filosofia. Alguns acreditam que ela é necessária para se manter uma sociedade justa.

Em algumas sociedades se acredita que o mal inflingido deve ser maior do que o mal que originou a vingança, como forma de punição. A filosofia de "olho por olho" citada no Velho Testamento da Bíblia (Exôdo 21:24) tentou limitar o dano causado, igualando ao original, para evitar uma série de ações violentas que escalassem rapidamente e saíssem do controle. Sobre as bases morais, psicológicas e culturais da vingança o filósofo Martha Nussbaum escreveu: "O senso primitivo do justo — notadamente constante de diversas culturas antigas a instituições modernas . . . — começa com a noção de que a vida humana . . . é uma coisa vulnerável, uma coisa que pode ser invadida, ferida, violada de diversas maneiras pelas açoes de outros. Para esta penetração, a única cura que parece apropriada é a contrainvasão, igualmente deliberada, igualmente grave.

[Video] This is your life

Aproveitando o ensejo do Dancem macacos, Dancem posto aqui o que deveria ser a oração de qualquer homem de bom senso ao acordar e partir para o cotidiano, um mantra a ser repetido diversas vezes.

(Cenas do filme Clube da Luta)

This Is Your Life
(tradução)
Dust Brothers

E você abre a porta e entra,
estamos dentro dos nossos corações
agora imagine que sua dor é uma bola branca de luz que cura
Isso mesmo,
sua dor, a dor em pessoa, é uma bola branca de luz que
cura
Acho que não

Esta é sua vida. Boa até a última gota
Melhor do que isso não pode ficar
Esta é sua vida que acaba um minuto por vez

Isto não é um seminário, nem um retiro de fim de
semana.

Em qualquer lugar que você estiver agora
você nem pode imaginar como será o fundo

Somente após um desastre podemos ser ressuscitados
Somente depois de você ter perdido tudo,
que você está livre para fazer o que quiser
Nada é estático, tudo está evoluindo

Esta é a sua vida, esta é a sua vida, esta é a sua
vida

Esta é a sua vida, ela não fica melhor do que é isso

Esta é a sua vida, esta é a sua vida, esta é a sua
vida

Esta é sua vida e ela está acabando um minuto por vez

Você não é um lindo e exclusivo floco de neve
Você não é o santo para ganhar ou melhorar como tudo
mais
Todos fazemos parte do mesmo resíduo orgânico
Nós somos todo o lixo do mundo que canta e dança
Você não é sua conta bancaria
Você não é as roupas que usa
Você não é o conteúdo da sua carteira
Você não é seu câncer de intestino
Você não é seu café com leite
Você não é o carro que dirige
Você não é seu maldito Khakeis

Você precisa desistir (2x)

Você precisa perceber que vai morrer algum dia
até você saber disso, você é inútil
Eu digo, nunca me deixe ser completo
Eu digo, eu posso nunca ser contente?
Eu digo, livre-me dos meus móveis suecos
Eu digo, livre-me de pele clara e dentes perfeitos
eu digo que você tem que desistir
Eu digo, evolua e deixe os tropeços caírem onde eles
foram feitos

Esta é a sua vida, esta é a sua vida, esta é a sua
vida
Esta é a sua vida, ela não fica melhor do que é isso
Esta é a sua vida, esta é a sua vida, esta é a sua
vida
Esta é sua vida, desperdiçando um minuto por vez

Você precisa desistir

Bem-vindo ao Clube da Luta
Se essa é a sua primeira noite, você tem que lutar

tradução: Rafael Robinson (Kazama)