sábado, junho 09, 2007

[Curiosidades] Tipos de Homens por H.L. Mencken

Tipos de Homens por H.L. Mencken

H.L. Mencken é o tipo de jornalista que já não se faz mais, é uma pena para todos nós. Ele é o tipo de cara que adoraria ser quando crescer mas parece que vou parar nos meus 1,62, o que é uma pena para mim. Tudo o que homem escrevia incomodava, era o tipo de pessoa que uns amavam odiar e outros odiavam amar. Seu maior inimigo sempre foi o protestantismo e deixou um legado de frases cortantes e venenosas que deveriam estar registradas no FBI como armas perigosas. Em seu Livro dos Insultos versou sobre os vários tipos de homens acompanhando o ano em que foram publicados:



O ROMÂNTICO
Há uma variedade enorme de homens cujo olho inevitavelmente exagera o que vê, cujo ouvido ouve mais do que a orquestra toca e cuja imaginação duplica ou triplica as informações captadas por seus cinco sentidos. É o entusiasta, o crédulo,o romântico. É o tipo do sujeito que, se fosse um bacteriologista, diria que uma mísera pulga é do tamanho de um cachorro São Bernardo, tão bela quanto a catedral de Beauvais e tão respeitável quanto um professor de Yale. (1918)

O CÉTICO
Nenhum homem acredita piamente em nenhum outro homem. Pode-se acreditar piamente numa idéia, mas não em um homem. No mais alto grau de confiança que ele pode despertar, haverá sempre o aroma da dúvida – uma sensação meio instintiva e meio lógica de que,l no fim das contas, o vigarista deve ter um ás escondido na manga. Esta dúvida, como parece óbvio, é sempre mais do que justificada, porque ainda não nasceu o homem merecedor de confiança ilimitada – sua traição, no máximo, espera apenas por uma tentação suficiente. O problema do mundo não é o de que os homens sejam muito suspeitos neste sentido, mas o de que tendem a ser confiantes demais – e de que ainda confiam demais em outros homens, mesmo depois de amargas experiências. Acredito que as mulheres sejam sabiamente menos sentimentais, tanto nisto como em outras coisas.Nenhuma mulher casada põe a mão no fogo por seu marido, nem age com se confiasse nele. Sua principal certeza assemelha-se à de um batedor de carteiras: a de que o guarda que o flagrou poderá ser subornado. (1919)

O CRÉDULO
A fé pode ser definida em resumo como uma crença ilógica na ocorrência do improvável. Ela contém um saber patológico; extrapola o processo intelectual normal e atravessa o viscoso domínio da metafísica transcedental. O homem de fé é aquele que simplesmente perdeu (ou nunca teve) a capacidade para um pensamento claro e realista. Não que ele seja uma mula; é, na realidade, um doente. Pior ainda, é incurável, porque o desapontamento, sendo essencialmente um fenômeno objetivo, não consegue afetar sua enfermidade subjetiva. Sua fé se apodera da virulência de uma infecção crônica. O que ele diz, em suma, é: "Vamos confiar em Deus, Aquele que sempre nos tapeou no passado". (1919)

O OPERÁRIO
Todas as teorias democráticas, sejam burguesas ou socialistas, levam necessariamente em seu recheio algum conceito de dignidade do trabalho. Se os despossuídos fossem privados desta ilusão de que seus sofrimentos na linha de montagem são, de alguma forma, louváveis e agradáveis a Deus, só lhes restaria em seu ego uma dor de barriga. Não obstante, uma ilusão é uma ilusão, e esta é das piores. Ela é fruto da confusão entre um artista que se orgulha do seu trabalha e a docilidade canina e penosa do operário em sua máquina. A diferença é importante e enorme. Mesmo sem qualquer remuneração, o artista continuará a trabalhar do mesmo jeito; sua verdadeira recompensa, de fato, é quase sempre tão mísera que ele chega a passar fome. Mas suponha que o operário de uma fábrica de tecidos não ganhe nada por seu trabalho: continuaria trabalhando do mesmo jeito? Pudesse imagina-lo submetendo-se voluntariamente a uma compulsão irresistível de expressar sua alma em mais 200 pares de calcinhas femininas? (1919)

O MÉDICO
A medicina preventiva é a corrupção da medicina pela moralidade. É impossível encontrar um médico que não avacalhe a sua teoria da saúde com a teoria da virtude. Toda a medicina, de fato, culmina numa exortação ética. Isto resulta num conflito diametral com a idéia da medicina em si. O verdadeiro objetivo da medicina não é tornar o homem virtuoso; é o de protegê-lo e salvá-lo das conseqüências de seus vícios. O médico não prega o arrependimento; ele oferece a absolvição. (1919)

O CIENTISTA
O valor dado pelo mundo sobre os motivos que levam os cientistas a fazer isto ou aquilo é freqüentemente e grosseiramente injusto e inexato. Considere, por exemplo, dois motivos: uma mera curiosidade insaciável e o desejo de fazer o bem. O último é considerado muito mais importante que o primeiro e, no entanto, é o primeiro que aciona um dos homens mais úteis que a raça humana produziu até hoje: o pesquisador científico O que realmente o desperta não é a idéia de prestar um serviço de araque, mas uma sede ilimitada e quase patológica de penetrar o desconhecido, de descobrir o segredo, de chegar aonde nunca se tinha chegado. Seu protótipo não é o de benfeitor que liberta seus escravos, nem o do bom samaritano que levanta os caídos, mas o de um sabujo farejando furiosamente em busca de infinitos buracos de ratos. (1919)

O EMPRESÁRIO
Existe um sólido instinto que põe o empresário abaixo de todos os outros profissionais e joga-lhe às costas um fardo de inferioridade social do qual não consegue se livrar, mesmo na América. O próprio empresário reconhece esta suposição de sua inferioridade, mesmo quando protesta contra ela. É o único homem, além do verdugo e do gari, que vive se desculpando por sua ocupação,para fazer parecer, quando atinge o objetivo de seu trabalho – i. e., ter ganho uma montanha de dinheiro –, que dinheiro não era o objetivo de seu trabalho. (1921)

O REI
Talvez a qualidade mais valiosa que qualquer homem possa ter neste mundo seja um ar naturalmente superior, um talento para empinar o nariz com desprezo.A generalidade dos homens se impressiona e aceita isto como prova de um mérito legítimo. Portanto, basta desdenha-los para ganhar o seu respeito. A estupidez e a covardia congênitas dos homens fazem com que eles se curvem a qualquer líder que apareça, e o sinal de liderança que reconhecem mais prontamente é aquele que se mostra externamente. Este é a verdadeira explicação para a sobrevivência da monarquia, que sempre ressuscita depois de suas mortes sucessivas. (1921)

O METAFÍSICO
Um metafísico é alguém que, quando você lhe diz que dois vezes dois são quatro, ele quer saber o que você entende por vezes, o que significa dois, e o que quer dizer são e por que isso dá quatro. Por fazerem tais perguntas, os metafísicos desfrutam um luxo oriental nas universidades e são respeitados como homens educados e inteligentes. (Inédita)

O HOMEM MÉDIO
Costuma-se jogar na cara dos marxistas, com a sua concepção materialista da História, que eles subestimam certas qualidades espirituais do homem que não dependem de quanto ele ganhe ou deixe de ganhar. O argumento é o de que essas qualidades colorem as aspirações e atividades do homem civilizado tanto quanto são coloridas pela sua condição material, tornando assim impossível simplesmente reduzir o homem a uma máquina econômica. Como exemplos, os antimarxistas citam o patriotismo, a piedade, o senso estético e a vontade de conhecer Deus. Infelizmente, os exemplos são mal escolhidos. Milhões de homens não ligam para o patriotismo, a piedade ou o senso estético, não têm o menor interesse ativo em conhecer Deus. Por que os antimarxistas não citam uma qualidade espiritual que seja verdadeiramente universal? Pois aqui vai uma. Refiro-me à covardia. De uma forma ou de outra, ela é visível em todo ser humano; serve também para separa o homem de todos os outros animais superiores. A covardia, acredito, está na base de todo o sistema de castas e na formação de todas as sociedades organizadas,inclusiva as mais democráticas. Para escapar de ir à guerra ele próprio, o camponês deva de mão beijada certos privilégios aos guerreiros – e destes privilégios brotou toda a estrutura da civilização. Vamos recuar mais ainda no tempo. Foi a propriedade que levantou a lebre de que uns poucos homens relativamente corajosos foram capazes de acumular mais posses do que hordas de covardes – e, como se fosse pouco, de mantê-las depois de acumuladas. (1922)

O DONO DA VERDADE
O homem que se gaba de só dizer a verdade é simplesmente um homem sem nenhum respeito por ela. A verdade não é uma cosia que rola por aí, como dinheiro trocado; é algo para ser acalentada, acumulada e desembolsada apenas quando absolutamente necessário. O menor átomo da verdade representa a amarga labuta e agonia de algum homem; para cada pilha dela, há o túmulo de um bravo dono da verdade sobre algumas cinzas solitárias e uma alma fritando no Inferno. (1922)

O PARENTE
A normal antipatia do homem por seus parentes, principalmente pelos de segundo grau, é explicada pelos psicólogos de várias maneiras torturantes e improváveis. A real explicação me parece muito mais simples. Reside no simples fato de que todo homem vê em seus parentes (especialmente em seus primos) uma série de grotescas caricaturas de si próprio. Eles exigem as qualidades dele deformadas para o máximo ou para o mínimo; dão-lhe a impressão de que talvez seja assim que ele próprio se mostra ao mundo, e isto é inquietante – e por isso ferem o seu amour propre e lhe provocam intenso desconforto. (1919)

O CONTRAPARENTE
O homem detesta os parentes de sua mulher pela mesma razão de que não gosta dos seus próprios, ou seja, porque eles lhe parecem grotescas caricaturas daquela por quem ele tem respeito e afeição, ou seja, sua mulher. De todos eles, a sofra é obviamente a mais repugnante, porque ela não apenas macaqueia sua mulher, mas também porque antecipa o que sua mulher provavelmente se tornará. Aquela visão,naturalmente, lhe provoca náuseas. Às vezes, a coisa é mais sutil. Digamos, por exemplo, que sua própria mulher lhe pareça uma caricatura de uma irmã mais jovem e bonita. Neste caso, estando atado à sua mulher, ele pode vir a detestar a irmã – como sempre se detesta uma pessoa que simboliza o fracasso e a escravidão de alguém. (1920)

O AMIGO
Um homem de mente ativa e elástica desgasta suas amizades, assim como certamente desgasta seus casos amorosos, suas tendências políticas e sua epistemologia. Elas se tornam puídas, esfrangalhadas, artificiais, irritantes e deprimentes. Transformam-se de realidades vivas em nulidades moribundas, e entram em sinistra oposição à liberdade, ao auto-respeito e à verdade. É tão repelente conserva-las, depois que se tornam ocas e podem ser sopradas como uma mosca, quanto manter uma paixão depois que esta paixão já se tornou um cadáver. Todo homem prudente, ao lembrar-se de que a vida é curta, deveria dispensar uma hora ou duas, de vez em quando, para um exame crítico de suas amizades. Deve pesá-las, repensá-las, testar se ainda contêm algum metal. Algumas poderão sobreviver, talvez com mudanças radicais em seus termos. Mas a maioria será varrida de seus minutos e ele tentará esquecê-las, assim como tenta esquecer seus frios e pegajosos amores do ano retrasado. (1919)

O FILÓSOFO
Não há registro na história humana de um filósofo feliz: só existem nos contos da Carochinha. Na vida real, muito cometeram suicídio; outros mandaram seus filhos por afora e surraram suas mulheres. Não admira. Se você quiser descobrir como um filósofo se sente quando se empenha na prática de sua profissão, dê um pulo ao zoológico mais próximo e observe um chimpanzé na sua chatíssima e infindável tarefa de catar pulgas. Ambos –o filósofo e o chimpanzé – sofrem como o diabo,mas nenhum dos dois consegue ganhar. (1927)

O ALTRUÍSTA
Uma grande parte do altruísmo, mesmo quando perfeitamente honesto, baseasse no fato de que é desconfortável ver gente infeliz ao nosso redor. Isto se aplica especialmente à vida familiar. Um homem faz sacrifícios para satisfazer os caprichos de sua mulher, não porque adore desistir da idéia de comprar o que ele realmente quer para ele, mas porque seria pior ainda vê-la d cara amarrada na mesa do jantar. (1920)

O ICONOCLASTA
O iconoclasta se afirma quando prova com suas blasfêmias que este ou aquele ídolo não passa de uma besta – e deixa cheio de dúvidas pelo menos um dos que o ouvem. A liberação da mente humana avançou muito quando alguns gaiatos depositaram gatos mortos em santuários e depois saíram pelas ruas espelhando que aquele deus no santuário era uma fraude – provando a todo mundo que a dúvida era uma coisa legítima. Um relincho vale por 10 mil silogismos. (1924)

O CHEFE DE FAMÍLIA
Vejamos o caso do escritor medíocre que defende o seu trabalho de escrever seriados para revistas ou roteiros de cinema, afirmando que tem uma mulher para sustentar. Tendo conhecido algumas destas mulheres, não vejo por que se submeteriam a tais sacrifícios… Quanto aos subprodutos biológicos desta fidelidade – os filhos –, minha avaliação deles seria ainda mais baixa. Mostre-me cem cabeças de crianças comuns que valham um único O Coração das Trevas, e eu mudarei de idéia. Quanto a Lord Jim, eu não o trocaria por todos aquele pirralhos nascidos em Trenton, New Jersey, desde a guerra contra a Espanha em 1898. (1924)

O SOLTEIRO
Ao redor de qualquer solteiro com mais de 35 anos, florescem muitas lendas a respeito das causas de seu celibato. Alguns sussurram que, sendo uma nulidade,sua solteirice estaria prestando um serviço aos não-nascidos. Outros fofocam que, aos 26 anos, ele teria se apaixonado perdidamente por uma linda mulher que o trocou por um corretor de imóveis, e isto partiu-lhe o coração para sempre. Tais histórias são, quase sempre, besteiras. A razão pela qual o solteiro mediano de 35 anos prefere continuar solteiro é muito simples. É a de que nenhuma mulher normalmente bonita e inteligente viu qualquer motivo para se casar com ele. (1922)

O HOMEM PERFEITO
O homem, na melhor das hipóteses, continua uma espécie de animal cambeta,incapaz de tornar-se redondo e perfeito como, digamos, ma barata é perfeita. Se ele demonstra uma qualidade merecedora de aplausos, ninguém sabe de outra que ele possua. Dê-lhe uma cabeça, e lhe faltará um coração. Dê-lhe um coração com capacidade para dez litros, e sua cabeça mal servirá para acomodar uma dose. O artista, em 90% dos casos, é uma mosca morta, dado à corrupção de virgens,assim chamadas. O patriota é um fanático e, muito freqüentemente, um farsante e um covarde. O homem de grande bravura física, no máximo, empata intelectualmente com um pastor protestante. O gigante intelectual sofre do fígado e não consegue saltar sobre uma agulha. Em todos os meus anos de pesquisa por este mundo, da Golden Gate, no oeste, até Vístula, no elste, e das ilhas Orkney, no norte, até o Spanish Main, no sul, nunca conheci um homem completamente honrado que merecesse a honra de ser chamado deste nome. (1923)

O ETERNO MACHO
Tente ouvir dois ou três rapazes conversando numa rodinha; seus bate-papos serão quase inteiramente compostos de bazófias – sobre suas façanhas no esporte,seu sucesso na escola, a riqueza e o vigor animal de seus pais, a elegância de suas casas. Acima de todos os quadrúpedes, o homem é o mais frívolo e idiota. Um belo papagaio não passa de um mero papagaio em comparação a ele. O homem não consegue se imaginar fora do centro das situações. Nunca abre a boca a não ser para falar de si mesmo. Nunca realiza a mais trivial das atividades sem pavoneá-la e aumentar-lhe a importância. Por mais banal que seja a situação em que se encontre, tenta transforma-la na mais inédita e gloriosa possível. Se, num daqueles sórdidos e obscuros combates contra outros imbecis, ele, por acaso, leva a melhor, estufa o peito de tal jeito que parece a ponto de explodir. Mas se, ao invés de levar a melhor, é obrigado a beijar a lona por um golpe desferido com luvas de pelica,extrai disso quase o mesmo êxtase por sua derrota e ignomínia. Então temos, de um lado, o herói; do outro, o mártir Ambos estão sujeitos a grotescos e pueris.Ambos são de araque. (1918)

O ESCRAVO
Não me diga o que ele vê de tão divertido a respeito de Deus, ou qual artista de circo ele segue em política, ou como agüenta submeter-se àquela mulher. Diga-me apenas como ele ganha a vida. Um homem que consegue casa e comida de maneira ignominiosa será, inevitavelmente, um homem ignominioso. (1922)

Sem comentários: